quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Dicas da Língua Portuguesa


A polêmica CRASE
A crase é sempre um caso sério.
Carta de uma leitora: “Com dúvida a respeito da ocorrência de crase na expressão ‘Programa de Ensino à Distância’ e ‘Universidade Aberta e de Ensino à Distância’, andei pesquisando no Dicionário e na Gramática Aurélio (ambos eletrônicos) e consegui os dados abaixo:
*Dicionário Aurélio Eletrônico
Verbete: distância
Um tanto longe: Ouvimos vagos rumores a distância.
Sem familiaridade: Sua casmurrice mantinha todos a distância. [Também se usa à distância (com acento no a): Parede acima vais (a lagartixa). E eu, à distância, / Olho as tuas pesquisas apressadas (Fernando de Mendonça, 13 Decassílabos, p.8).]
*Gramática Eletrônica Aurélio
Casos particulares
Dá-se a CRASE:
a)    com a palavra CASA quando indicar estabelecimento comercial ou estiver seguida de adjunto: Foi um golpe esta carta; não obstante, apenas fechou à noite, corri à casa de Virgília.(M. de Assis)
Observação: Entretanto não há crase com a palavra CASA no sentido de residência, lar:Chegamos a casa eu e ela perto das nove horas da noite. (M. de Assis)
b)    com a palavra TERRA seguida de uma especificação qualquer:
Tanto eu quanto minha mulher já estávamos ajustados à terra e à gente de Portugal. (J. Montello)
Observação: Mas não se usa a crase antes da palavra TERRA em oposição a mar: À noite já está embarcado, e nem desce a terra para esperar a maré. (O. Costa Filho)
c)    com a palavra DISTÂNCIA quando significar na distância: Não ameis à distância. (R. Braga)”
A nossa leitora tem razão. O uso do acento da crase, para nós brasileiros, é uma grande dor de cabeça.
Primeiro, é necessário entendermos que crase é a fusão de duas vogais iguais: preposição “a” + outro “a” (artigo definido feminino ou pronome demonstrativo ou vogal inicial dos pronomes AQUELE (S), AQUELA (S), AQUILO). Isso significa que temos de saber a regência dos verbos e dos nomes (= saber se pedem ou não a preposição “a”) e reconhecer a presença do segundo “a”: “Vou a (preposição) + a (artigo) praia = Vou à praia”; “Sua camisa é igual a (preposição) + a (pronome = a camisa) do meu pai = Sua camisa é igual à do meu pai”; “Chegou a (preposição) + aquele lugarejo = Chegou àquele lugarejo”.
Depois surgem os casos particulares:
a)    Você vai a qualquer CASA com o acento da crase, menos se for a sua própria casa: “Vou… à casa dos meus avós, à casa do vizinho, à casa de Cabo Frio, à casa José Silva, à casa dela.”
Mas: “Ele retornou a casa só lá pelas onze horas”.
A explicação é a seguinte: não há artigo definido antes da palavra CASA, quando se refere a sua própria casa: “Fiquei EM casa”, “Venho DE casa”.
b)    Você vai a qualquer TERRA com acento da crase, menos se for “terra firme”: “Vou…à terra dos seus ancestrais, à terra natal, à terra da minha avó.”
Mas: “O marinheiro pediu autorização para descer a terra.”
A explicação é a mesma. Não há artigo definido antes da palavra TERRA, quando significa terra firme: “Ficamos EM terra”, “Consulte o nosso pessoal DE terra”.
c)    Com a palavra DISTÂNCIA, existe uma grande polêmica:
1o) Ocorre a crase sempre que a DISTÂNCIA estiver determinada: “Ficou à distância de cinco metros”;
2o) Se a DISTÂNCIA não estiver determinada, existem duas versões:
a)    Sem crase porque não haveria artigo definido: “Ficamos a distância”; “Ensino a distância”; ou
b)    Com crase por tratar-se de um adjunto adverbial (com palavra feminina): “Ficar à distância”, “Sentar-se à mesa”; “Bater à porta”; “Sair à noite”; “Chegar às 10h”; “Vender à vista”; “Viver à toa”; “Falar às claras”…
Agora, você decide.
Quanto aos casos das palavras CASA e TERRA, não há discussão.
Quanto à polêmica da palavra DISTÂNCIA, por uma questão de padronização, adotamos o uso da crase em todas as situações, ou seja, “ficamos à distância de dez metros” e “ensino à distância”.
Nada definitivo, é claro.
Sérgio Nogueira

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