terça-feira, 2 de agosto de 2011

Gramática de Uso

    A Gramática de uso (ou internalizada) é definida como o conjunto de regras que o
falante domina. É o conhecimento lexical e sintático-semântico que o falante possui e
que permite que ele entenda e produza frases em sua língua.


    Ao contrario das outras gramáticas, cheias de regras, com muitos termos técnicos,
uma Gramática de Uso é diferente, pois evita tais normas. De modo bem simples ela
privilegia o uso real da língua, dando mais atenção ao modo como os falantes nativos
da língua realmente a utilizam no dia a dia. O autor mostra aos leitores como as coisas
funcionam na prática, demonstrando que a língua pode ser ensinada de modos diferentes
com resultados mais imediatos, sem rodeios.


    A existência de uma gramática internalizada pode ser observada por dois fatos
linguísticos: o primeiro é a criança produzir formas não usadas por falantes adultos.
Por exemplo, é comum a criança utilizar a conjugação dos verbos regulares (comi,
escrevi) para os verbos irregulares (fazi, trazi). Este fato demonstra que ela tem uma
regra internalizada para o uso de verbos, porém, por não conhecer as exceções (os
irregulares), aplica a regra a todos os verbos.


    O outro fato é a hiper-correção, que é a aplicação de uma regra de maneira generalizada,
ainda que a regra não se aplique a determinado contexto. Por exemplo, um falante que
produz formas como "meu fio" no lugar de "meu filho", ao ter contato com as formas
reconhecidas como corretas, "filho", "velho", "baralho", pode ampliar o uso da regra em
contextos onde não se aplica, como "pilha da cozinha" e "telha de aranha".


    Não podemos viver em um conto de fadas achando que todos os alunos que tivermos
saberão a gramática normativa e o português padrão. A realidade não é bem essa, não
será raro nos depararmos com alunos sem familiaridade com a gramática normativa
e é claro que como educadores não podemos deixá-los sem o conhecimento. Nesse
ponto entra a importância da gramática de uso, o professor que domina essa modalidade
terá mais artifícios para que todos os seus alunos consigam compreender a gramática,
conectando-a com o uso diário que cada um de nós falantes fazemos.

O Assassino era o Escriba



Meu professor de análise sintática era o tipo do
sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular com um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conetivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.



( Paulo Leminski)