A
FORMAÇÃO DA LITERATURA NO BRASIL
Como ser sociável, dotado de cognição e
linguagem, o homem consequentemente se comunica levando a outros suas ideias e
sentimentos e os faz usando vários recursos, entre eles a narrativa.
A
narrativa se iniciou com a oralidade e surgindo paralelamente a ela veio a
literatura; esta se aprimorou usando outro recurso que é a escrita e assim a literatura
tornou-se possível.
Literatura pode ser
compreendida como a arte de criar e recriar textos, de estudar a arte da
escrita. O termo literatura “arte de escrever”, originou-se do latim, a partir
da palavra latina littera, letra.
Tendo por base essas
considerações, pode-se constatar que língua, sociedade e literatura estão
intimamente interligadas num processo ininterrupto, afinando-se mutuamente e
alcançando aos poucos a maturidade.
Mas esse não é o caso das
literaturas ocidentais do Novo Mundo. O que aconteceu na literatura do Brasil foi
à incorporação de outra, uma literatura já madura, vinda de um espaço
geográfico diferente de um povo com uma cultura diferente.
Durante o processo de
conquista e colonização, houve o transplante de línguas e literaturas já
maduras para um meio físico diferente, com povos de outras raças e com outras
culturas. Isso gerou uma forte imposição de leis, costumes e orientação
religiosa. Mas mesmo sendo uma literatura imposta, ela foi se transformando à
medida que uma nova sociedade se formava e foi se ajustando à nova realidade
social e cultural do Brasil.
À medida que a colônia se
transformava em nação, a literatura brasileira criou o seu próprio timbre e
desenvolveu cada vez mais a sua própria personalidade. Esse processo ocorreu em
três etapas a seguir:
1- Era das manifestações literárias
(séc.XVI ao meio do séc. XVIII). O Barroco literário é a linha de maior
interesse.
2- Era da configuração do sistema
literário (meio do séc.XVIII à segunda metade do séc. XIX). Houve transformação
do Barroco, tentativas de renovação arcádica e neoclássica e a grande fratura
do Romantismo e seus prolongamentos.
3- Era do sistema literário consolidado (segunda
metade do séc.XIX até os dias atuais). Abrange as tendências finisseculares; ruptura
como Modernismo (1920) e tendências posteriores.
A
literatura produzida no Brasil até o final do séc. XVIII é chamada de
Manifestações Literárias e os seus tipos são compreendidos em:
Literatura de informação:
esses escritos são descrições do país e também tinham por outra finalidade
informar tudo que pudesse interessar aos governantes portugueses, um exemplo
foi a Carta de Pero Vaz de Caminha.
A literatura de Catequese: os
textos eram destinados ao trabalho de pregação e conversão dos índios. José de
Anchieta tendo em vista a catequese escreveu poemas, hinos, canções e cartas informativas
sobre a catequese, além de uma gramática da língua Tupi, pois ele acolheu e
procurou dar dignidade à própria expressão linguística do indígena.
No século XVII apareceram
Antônio Vieira e Gregório de Matos. Antônio Vieira é a principal expressão do
barroco em Portugal correto, um dos grandes modelos da escrita clássica
portuguesa. Sempre pôs os seus sermões a serviço das causas políticas que
defendia, e por isso se indispôs com muita gente. Era um orador incomparável
com mais de duzentos sermões e quinhentas cartas. Escreveu relatórios de grande
interesse e tratados onde dá largas ao profetismo como a Curiosa História do
Futuro, inacabada e de publicação póstuma. Sua linguagem era cheia de harmonia
e vigor.
Gregório de Matos,
contemporâneo de Vieira, foi o maior poeta barroco brasileiro e um dos
fundadores da poesia lírica e satírica do Brasil primava pela irreverência em
sua obra ao denunciar as contradições da sociedade baiana do séc.XVII,
criticando os mais diferentes grupos sociais. Era conhecido como “O Boca do
Inferno”.
A configuração do sistema
literário é outro momento que se iniciou a partir da metade do séc. XVIII. Nele
já se pode falar pelo menos do esboço de uma literatura como fato cultural
configurado. A consciência de grupo por parte dos intelectuais, o
reconhecimento que começou a existir de um passado literário local, o começo de
maior receptividade por parte de públicos, começam a definir uma articulação
dos fatos literários. Esse momento se deu por meio dos movimentos das
Academias. A Academia dos Renascidos apresenta
um significativo elemento novo, ela recruta sócios no Sul, mostrando que
começava haver articulações entre os homens cultos. Depois de algumas mudanças
os intelectuais da Colônia estavam acertando o passo com a filosofia das luzes.
Nesse momento chamado de Arcadismo, houve um reflorescimento das tendências
artístico-científicas, procurou-se regatar o racionalismo e o equilíbrio do
Classicismo do séc. XVI como meio de combater a influência do Barroco. Esse
movimento teve grande importância para a literatura brasileira, pois foi um
período de amadurecimento e que consequentemente refletiu na quantidade de
homens cultos, que formaram o primeiro grande conjunto de brasileiros capazes
de ombrear com os naturais de Portugal. Entre os autores árcades brasileiros
destacam-se: José de Santa Rita Durão, com o poema Caramuru que tem por tema a
terra e particularmente o indígena.
José Basílio da Gama, com o
poema “O Uruguai” cujo tema retrata a luta de portugueses e espanhóis contra
índios e jesuítas. O poema não enfatiza a guerra em si, mas a descrição física
e moral do índio, o choque de culturas e a paisagem natural.
Cláudio Manoel da Costa é um
poeta de transição entre o Barroco e o Arcadismo, nele ocorre um procedimento
temático de certo alcance na formação de uma sensibilidade nacional na
literatura: a da metamorfose- que consiste em imaginar que acidentes naturais
como árvores, rios montanhas, são personagens mitológicos transformados.
Tomás Antônio Gonzaga é o
mais moderno. Sua obra lírica consiste numa coleção de poemas amorosos
dedicados à pastora Marília. A ele se atribui com certeza quase absoluta a
autoria do poema satírico inacabado “Cartas Chilenas”. Elas satirizavam os
desmandos administrativos e morais de Luís da Cunha de Menezes, governador de
Minas Gerais que era populista e acusado de corrupção e nepotismo.
O Arcadismo foi importante
não só porque consolidou uma visão crítica do país na época do ciclo do ouro,
mas também porque permitiu a abordagem da temática da oposição entre campo e
cidade, evidenciou a presença do modelo camoniano e preparou o campo para a
literatura de fundo indianista.
O movimento de novas ideias
filosóficas e literárias, que teve início a partir do decênio de 1870 e se
estende até os dias atuais, trouxe o desenvolvimento de um forte espírito
crítico, voltado para analisar de maneira moderna a sociedade, a política e a cultura
do Brasil.
Esse movimento trouxe uma
transformação cheia de modernidade e pôs em cheque o idealismo romântico e as
explicações religiosas, questionou oligarquias e propôs explicações
científicas.
A literatura brasileira
passou a ser uma atividade regular de muitos escritores e já podia ser
difundida através de veículos de comunicação.
A literatura já não vivia
mais de idealismos. Passou a ser uma arte mais objetiva que analisasse,
compreendesse, criticasse e transformasse a realidade.
A partir de então a
literatura foi consolidada, porque houve um amadurecimento da cultura
brasileira, e um dos grandes sinais deste amadurecimento é a obra de Machados
de Assis.
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