quinta-feira, 6 de outubro de 2011


Quando a crase muda o sentido
Muitos deixariam de ver a crase como bicho-papão se pensassem nela como uma ferramenta para evitar ambiguidade nas frases

Luiz Costa Pereira Junior
O emprego da crase costuma desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de frases inflamadas ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por exemplo, é autor da sentença "A crase não foi feita para humilhar ninguém", marco da tolerância gramatical ao acento gráfico. O escritor Moacyr Scliar discorda, em uma deliciosa crônica "Tropeçando nos acentos", e afirma que a crase foi feita, sim, para humilhar as pessoas; e o humorista Millôr Fernandes, de forma irônica e jocosa, é taxativo: "ela não existe no Brasil".

O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto, que morreu em abril deste ano aos 63 anos, propôs abolir esse acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava "sinal obsoleto, que o povo já fez morrer". Bombardeado, na ocasião, por gramáticos e linguistas que o acusavam de querer abolir um fato sintático como quem revoga a lei da gravidade, Herrmann Neto logo desistiu do projeto.

O acento grave (`) no a tem duas aplicações distintas, explica Celso Pedro Luft (1921-1995) no hoje clássico Decifrando a Crase (Globo, 2005: 16):

1) Sinalizar uma fusão (a crase): indica que o a vale por dois (à = a a): "Dilma Rousseff compareceu às CPIs".
2) Evitar ambiguidade: sinaliza a preposição a em expressões de circunstância com substantivo feminino singular, indicando que não se deve confundi-la com o artigo a. "Dilma Rousseff depôs à CPI". Sem a crase, a frase hipotética se revela ambígua: Dilma destituiu a comissão parlamentar de inquérito ou apenas deu depoimento à comissão? O sinal de crase tira a dúvida.

Sinalizar a contração entre vogais idênticas (no caso, a preposição a e o artigo a) é um desafio que, mesmo quando parece complicado, pode ser intuído pelo usuário do idioma, em regras relativamente simples de ser incorporadas.

Ambiguidade

A grande utilidade do acento de crase no a, entretanto, que faz com que seja descabida a proposta de sua extinção por decreto ou falta de uso, é a assinalada por Luft: crase é, antes de mais nada, um imperativo de clareza.

Muitas frases em que a preposição indica uma circunstância (instrumento, meio etc.), em sequências do tipo "preposição a + substantivo feminino singular", podem dificultar a interpretação por parte de um leitor ou ouvinte. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase - em outras, só o contexto resolve o impasse.

Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de uma frase, lembrados por Luft em Decifrando a Crase:

Cheirar a gasolina (aspirar) x cheirar à gasolina (feder a).

A moça correu as cortinas (percorrer) X A moça correu às cortinas. (seguiu em direção a).
O homem pinta a máquina (usa pincel nela) X O homem pinta à máquina (usa uma máquina para pintar).
Referia-se a outra mulher (conversava com ela) X Referia-se à outra mulher (falava dela).

Contexto
O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem em casos como: "vimos a cidade"; "viemos a cidade". "conserto a máquina"; "escrevo a máquina". Um usuário do idioma mais atento intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se insere, se a finada testemunha do exemplo a seguir destituiu a relatora da OAB ou prestou depoimento:
Morta a testemunha que depôs a relatora da OAB.

Mas, em geral, contextos elípticos ainda deixariam dúvidas em exemplos do tipo: "Fique a vontade onde está" ou "A sombra das raparigas em flor".

  Cheirar a gasolina                                                   Cheirar à gasolina
(aspirar o combustível)                                           (feder tal qual o combústivel)


"Fique a vontade onde está" indica que uma entidade metafísica chamada "vontade" deve se manter suspensa ou que o interlocutor da mensagem deve se sentir confortável?

A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos de dúvida fonética, sugeridos por Francisco Platão Savioli, professor e coordenador de gramática e texto no Anglo Vestibulares:

- "A noite chegou." Na linguagem falada há ambiguidade; na escrita, com ou sem o acento, não. Alguém chegou à noite, ao escurecer? Ou foi a noite que chegou no fim da tarde? Como saber o sentido de uma frase como essa, sem o acento?

- "Ela cheira a rosa." A afirmação será ambígua, se oral. Se escrita, terá sentidos diferentes, se houver o acento grave no a que precede "rosa" ou se ele for dispensado. "Ela cheira a rosa" significa que a dama aspira o perfume da rosa. Já "ela cheira à rosa" indica que a princesa tem o perfume da flor. Na escrita, com a crase, nem é preciso explicar ou entender o contexto.

- "Matar alguém à fome." Sem acento, alguém mata a própria fome. Com, mata-se alguém pela fome. Como na África ou em ásperas periferias brasileiras.

Sem o sinal diacrítico, construções como essas serão sempre ambíguas. Nesse sentido, a crase pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente de escrita.
Em expressões com palavras femininas (expressões adverbiais, conjuntivas e prepositivas), há o acento grave de clareza, utilizado por tradição: "às vezes", "à moda de", "à espera", "à medida que", "à custa de", "à prova de" etc.
Embora com expressões adverbiais de instrumento o emprego do acento da crase seja desaconselhado pelos gramáticos, seu uso é frequente no português brasileiro, mesmo quando desnecessário: Escrever a máquina, a mão, a tinta, a caneta (a lápis); ferir a faca (a cacete); calar a bala (a tiro), matar a baioneta (a punhal). Acentua-se, se houver confusão de sentido. Alguém matará uma baioneta? Coisa difícil. Quem aplica o sinal intui um chamado da mensagem ao uso do acento grave de clareza. "Produzir a máquina" será fabricar a máquina ou produzir com a máquina? Então: "Produzir à máquina". Por isso, "pintar a mão" será pintar, desenhar na própria mão, como amantes de tatuagens? Ou pintar com a mão, sem instrumentos, como fazem alguns sensitivos? Então: "Pintar à mão".

Mesmo a regra da crase como índice de contração com "distância" tem sido interpretada pelos usuários do idioma como dependente do contexto.

Pela regra tradicional, não há acento, se a "distância" estiver indeterminada:
"Ficar a distância". "Seguiu-a a distância". "Manteve-se a distância segura". Se a "distância" estiver definida, determinada numericamente, há acento: "Ficou à distância de dois metros". "Viu o corpo à distância de três passos".

Influência
Há, no entanto, autores que sempre acentuam o a dessa locução. Não por acaso, dicionários como Houaiss incorporam as diferenças de sentido que os usuários da língua tendem a sentir ao usar a locução.

No sentido de "de longe" e "de um ponto distante", muitos brasileiros sentem que faz sentido usar crase. Exemplo de Houaiss: "a sentinela vigia à distância. Entende-se "à distância" como "localizado a (certa) distância; distante, afastado". No sentido de "ao longe" e "em um ponto distante" não se sentiria a necessidade da crase: "viram algo movendo-se a distância".

O que os usuários intuem do sentido implícito à frase parece influir, por exemplo, no uso da crase com nome próprio feminino, o que torna o acento muitas vezes optativo: "Fizeram uma homenagem à Maria" revela mais intimidade do que "Fizeram uma homenagem a Maria".

Assim também "desenhei a caneta" x "desenhei à caneta"; "a polícia recebeu a bala" x "a polícia recebeu à bala"; "dar à luz" x "dar a luz".

   Chegar a noite                                                           Chegar à noite
    (anoitecer)                                                                  (chegar tarde)


Expressões
Em crase, a intuição e a generalização de exemplos concretos podem ser mais efetivas que a decoreba de regras.

Se intuímos a regra básica de que só se usa crase diante de palavras femininas quando há uma preposição seguida de um artigo, evitamos ocorrências como "à 80 km", "à correr" ou "à Pedro". Afinal, nunca pensamos em crase com palavras masculinas ou verbos: daí não haver em "a lápis", "a contragosto", "a custo".

Se lembramos que a crase serve para eliminar uma ambiguidade, também evitamos tirar a crase em contextos que pedem, por exemplo, "à beira", "à boca miúda", "à caça". Assim, fica muito mais fácil pensar a crase. (Colaborou João Jonas Veiga Sobral)
Ensinando a crase
João Jonas Veiga Sobral
O estudo do uso da crase é excelente oportunidade para o professor ou pais discutirem com seus alunos ou filhos a construção de sentido em um texto, as variantes linguísticas e a ambiguidade. A seguir, uma sugestão de como organizar o conhecimento e ensinar um aluno, um filho, um amigo.

Desafios:
- Área do conhecimento: Linguagens e Códigos.
- Objetivo: Refletir sobre regras, variantes e ambiguidades.
- Competências: Reconhecer estruturas e construções de texto, e posições críticas a usos sociais de linguagens e sistema de comunicação.

Propostas:
- Discutir o uso sintático e estilístico da crase e diferenças entre as variedades escrita e falada, como estratégia linguística;

- Analisar textos em que a crase seja essencial na construção do sentido e explicar o conceito de crase como fenômeno fonético.

- Debater com os alunos a posição defendida pelos escritores, pelos entrevistados, na revista Língua.

Atividade 1: Sondagem
- Propor debate a partir da leitura do texto de Língua, com as opiniões de escritores e frases em que ocorram empregos obrigatórios, facultativos e estilísticos da crase.

- Solicitar ao aprendiz que exponha suas dificuldades ou razões que defendam ou não a extinção desse uso. (É boa oportunidade para discutir o papel social da linguagem.)

Atividade 2: Aplicação
- Analise frases em que há ambiguidade: "desenhei a caneta" x "desenhei à caneta"; "compras a vista" x "compras à vista"; "a polícia recebeu a bala" x "a polícia recebeu à bala"; "li até a última página" x "li até à última página"; "bater a porta" x "bater à porta"; "dar à luz" x "dar a luz".

- Discutir o uso facultativo do artigo feminino em expressões (adjuntos adverbiais e pronomes possessivos) e o efeito estilístico em cada situação. Mostre que a crase será usada para resolver a ambiguidade, caso o contexto não a explicite.

- Analisar empregos da regência dos verbos "chegar" e "ir": "chegou na escola" x "chegou à escola"; "foi na padaria" x "foi à padaria". Discutir a noção de variante linguística e adequação do discurso.

- Diferenciar "Cheguei à moto" de "Cheguei na moto". Mostrar a diferença de significado na regência. Analisar a canção Você é Linda, de Caetano Veloso e explicar a diferença de sentido provocado na regência do verbo: "ir no seu íntimo" x "ir ao seu íntimo". Caetano faz declaração de amor da regência do verbo.

- Trabalhar Sampa, de Caetano, e mostrar um uso estilístico da crase: "E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho". Peça que se passe o período para ordem direta e levante hipóteses para o uso da crase.

- Solicite que se use, na canção Eu Sei que Vou te Amar, de Vinícius de Moares e Tom Jobim, o acento grave no verso "A espera de viver ao lado teu", e que se explique a diferença de sentido provocada.

- Aplique exercícios com base no texto de Josué Machado (no rodapé destas páginas).
João Jonas Veiga Sobral é professor e tutor educacional da Escola Móbile.

A fusão de preposição e artigo
A crase indica a fusão de duas vogais iguais numa só. Em particular, interessa aqui a fusão de um a com outro.

O primeiro a é preposição, palavra que serve para relacionar
duas outras.

O segundo a pode ser o artigo definido feminino a, o pronome feminino a, ou o a inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aquilo, no singular ou no plural.

A crase em resumo:
1. Preposição a + artigo feminino definido a: É fiel à disciplina partidária.
2. Preposição a + pronome demonstrativo a (= aquela). A jogada do deputado é igual à de todos os outros.
3. Preposição a + vogal a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo. Os políticos atribuíram a culpa àquele empresário americano.
A seguir, dicas que facilitam a vida dos usuários do idioma. (Josué Machado)

Troque por masculino
Ele foi a reunião x Ele foi à reunião? Em caso de dúvida, troca-se a palavra feminina diante do a por equivalente masculino. Ele foi ao escritório. Portanto: crase. Sempre que a troca exigir ao.

Há crase ao lado de termos masculinos quando a palavra "moda" está implícita: Gosta de buchada à FHC.
Troque por outra preposição com artigo
Usar-se crase se o a puder ser substituído por outra preposição com artigo: "com a", "na" (em a), "para a", "pela" (por a). Não é preciso que a construção correspondente seja perfeita:
"Ele foi à CPI?"
(Ele foi para a CPI, na CPI).
"Escaparam à cassação"
(Escaparam da).
"Acostumou-se às exigências"
(Acostumou-se com as).

Àquele, àquilo
Se o período exigir preposição a antes de "aquele", "aquilo", há crase mesmo com termos masculinos:
"Quero assistir àquele jogo" (a aquele); "Prefiro isto àquilo" (Preferir uma coisa a outra, "a aquilo"). "Quero ver aquele jogo" (ver aquele).

Com "casa"
Em sentido genérico, de lar, "casa" não vem com a craseado: Ela fugiu com o padeiro e depois voltou a casa. (Saiu de casa, voltou a casa.). Há crase se "casa" está determinada (acompanhada de adjetivo ou pronome): Ela voltou à casa dos pais. (Saiu da casa dos pais, voltou à casa dos pais.)

Com "terra"
Em sentido genérico, não se usa o acento com a acompanhado da palavra "terra", em oposição a mar ou a bordo: Os piratas vieram a terra.

Há crase, no entanto, se houver qualificação ou determinação de terra: Os piratas chegaram cedo à terra dos severinos.

Com lugares
Veja se o nome do lugar exige artigo (crase) de modo simples:
Volto da Amazônia, portanto, "Vou à Amazônia". Volto de Santa Catarina, portanto, "Vou a Santa Catarina". Ou use para em vez de a (à = para a; a = para): Vou para a França, portanto, "Vou à França". Vou para Roma, portanto, "Vou a Roma".
Com "uma" e horas determinadas
Neste caso, há sinal de crase:
"Cheguei à uma hora" (a primeira hora após a meia noite ou ao meio dia). "Abaixo a corrupção - gritaram todos à uma voz". "Concordaram à uma" (ao mesmo tempo, de uma só vez, de comum acordo).

Use o acento de crase quando o caso envolver horas determinadas:
"Apaixonou-se à uma hora" ("uma" no caso é numeral) ou "Morreu de amor às duas horas".

"À vista"
Subentende o sentido de "ao alcance da visão", "na presença", "diante de", "de repente", "tornar evidente":
"Barco à vista." "Atacou-a à vista de todos." "À vista das provas, confessou." "Foi amor à primeira vista." "O desvio de recursos no mensalão saltou à vista".

À vista/a prazo: O a de "à vista", no comércio, em oposição a "a prazo", leva acento por tradição. Alguns o explicam assim: "Compra à vista de dinheiro".


A dança do verbo regente.


Luiz Costa Pereira Jr

A imagem de um maestro a conduzir a orquestra com batuta e fraque pode ser severa em demasia. Mas talvez traduza como poucas a ideia que fazemos da regência verbal. Como um maestro, o verbo regente cria uma unidade necessária entre personas diversas, que o seguem a seu sinal. Ele é, no entanto, regente caprichoso: o mesmo verbo pode assumir significados diferentes a cada relação que mantém com seus complementos.

"Agradar", por exemplo, que é transitivo indireto com a preposição a no sentido de "satisfazer" e "ser agradável" (Quis agradar ao leitor), vira transitivo direto quando equivale a "contentar" e "acarinhar" (A mulher agradou o gato delicadamente).
"Querer muito a moça" não é o mesmo que "querer muito à moça". "Parei para fumar" e "parei de fumar", por sua vez, dizem coisas distintas com a alternância da preposição, assim como "pegou pelo braço" e "pegou no braço".

A regência diz respeito à relação entre os termos de uma oração ou entre orações de um período. O verbo, no caso, guia o modo como os complementos vão se apresentar na frase, o que induz o sentido e dá coesão a ela. Cada verbo, como sabemos, pode ligar-se a seus complementos de dois modos: com ou sem preposição. Ocorre, entretanto, que a relação de dependência, imposta por um verbo aos termos que o seguem, nem sempre foi a mesma.
Ela é histórica. Datada e datável.
"A regência, como tudo na língua, a pronúncia, a acentuação, a significação etc., não é imutável. Cada época tem sua regência, de acordo com o sentimento do povo, o qual varia, conforme as condições novas da vida", escreveu Antenor Nascentes. Gramáticas históricas, como as de Ismael de Lima Coutinho e Manuel Said Ali, evidenciavam o fenômeno. Convém reeditá-las. Mas seus ensinamentos ecoam em autores atuais. Em Nada na Língua é por Acaso (Parábola, 2007: 137-8), por exemplo, Marcos Bagno cita estruturas do português arcaico e medieval citadas por Said Ali e que nos soariam estranhíssimas:
"Resistir os assaltos" (e não "aos assaltos").
"Perguntou-o que homem era" (perguntou a alguém alguma coisa).
"Jurou de nunca mais vestir armas" (jurou nunca mais usar armas).
"Mereci de ser seu servo" (mereci ser...).
"Começar fazer" (a fazer).
Se a regência verbal é histórica, sugere Bagno, não há razão para acreditarmos que não mude. Bagno, é verdade, cita a gramática histórica para justificar as variantes hoje em uso, quando na verdade ela explica usos e oscilações nas várias épocas, assim como a evolução da língua, o que difere de justificar um ou outro uso corrente atual. Mas fato é que muitas regências passam hoje por variação, o que indica mudanças permanentes talvez em andamento:
"Assisti o filme" (e não "assisti ao filme", como a gramática manda).
"Atenda o chamado" (ao).
"Evitar de fazer" (evitar fazer).
"Já paguei o marceneiro" (ao).
"Prefiro [mais] abacaxi do que manga" (prefiro abacaxi a manga).
"A reforma do prédio implicou gastos" (...implicou em gastos).
Pisar
A gramática tradicional recomenda o uso do verbo "implicar" como transitivo direto (sem preposição), quando equivalente a "fazer supor", "dar a entender", "acarretar", ("As novas denúncias implicam julgamento do acusado").
A regência é para os gramáticos um tema tão flutuante que é frequente vê-los discordar em torno do mesmo verbo.
Tradicionalmente, o verbo "chegar" é verbo de movimento (portanto, acompanhado por preposição a: "Chegou ao parque", "Chegou a Manaus"). Mas a ideia de conclusão, repouso, estado estacionário, contida no verbo quando diante do complemento de lugar, parece se sobrepor à ideia de movimento (daí o sentido "equívoco" de "Chegou no parque", "Chegou em Manaus").
John Robert Schmitz, do Departamento de Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, já tentou entender o que passa pela mente dos usuários do idioma quando usam verbos na companhia de preposições consideradas indevidas segundo a regência "oficial" no idioma, como em "pisar na bola", "implicar em alguma coisa", "consistir de" e "namorar com".

Há usuários, diz Schmitz, para quem retirar a preposição do verbo "pisar" num enunciado significaria que nada foi realmente pisado. Por isso, brasileiros "pisam no acelerador" e "na tábua", mas sabem que não devem "pisar na grama". Os portugueses dizem "pisou a bola". A um brasileiro, no entanto, soaria estranho dizer tal frase, assim como "pisou o tomate" ou "o freio", como recomenda a gramática normativa.
O brasileiro dá de ombros à própria ambiguidade de sentidos de "pisou na bola", pois raramente se sente desconfortável entre as possibilidades de alguém ter escorregado na bola, feito falta num jogo ou dito uma besteira em campo, ao juiz, ou fora dele, a outro qualquer. Em cada caso de regência oficial de "pisar", o brasileiro entenderia que a preposição em enfatiza a ação e expressa a violência potencial embutida no verbo.
Namorar
A regência tradicional do verbo "namorar" também dispensa a companhia da preposição, no caso, com. Essa é a regência exigida, por exemplo, em concursos. Mas é raro, muito raro, nas situações de comunicação mais comuns, ver os brasileiros usarem "namoro aquela mulher". Em geral, preferem "namoro com". É possível que tal preferência, diz Schimtz, venha da intuição de que a ausência da preposição com daria ao namoro uma indiferença indesejável. Daí omitir-se o com quando o objeto do desejo não é uma pessoa: "Namoro aquele vestido há meses".
A rigor, até com sentido intransitivo (sem complemento) podemos flagrar o verbo: "ele namora" pode significar que se tem o hábito de galantear, e não se consegue ficar sem namorar alguém. De todo modo, os dicionários, que registram usos concretos do cotidiano, anotam "namorar com". O Aurélio abona: "O uso de namorar com esta regência é perfeitamente legítima, moldado em casar com e noivar com". Mas dicionário não é gramática. É registro.
Ocorre que mesmo linguistas menos inflamados e extremistas do que Bagno dizem que é preciso conviver com as variações atuais e, antes de adotar uma ou outra regência, entender o que e a quem falamos, em que circunstância. Pois textos diferem segundo o gênero e o contexto de comunicação, as condições de produção e de recepção. O que é considerado errado num caso pode fazer sentido no outro.
Agradar
Não por acaso, Celso Luft considerava que a regência de "agradar" sofreu uma evolução de sentidos no Brasil: teria ganho regência indireta por influência de sinônimos como "alegrar", "deleitar", "contentar" e "satisfazer". Mas dispensa preposição com o sentido de "mimar", "acariciar", "acarinhar" e é intransitivo em algumas situações ou pronominal, no sentido de "gostar", "simpatizar", "ter prazer". Daí "o apartamento agradou ao inquilino" (transitivo indireto), "Não se deve agradar os filhos exageradamente" (direto), "O relatório não agradou" (intransitivo) e "Ele se agradou do apartamento" (pronominal).

Como entender a regência verbal, então? Pensando as recomendações das gramáticas como úteis às situações que requerem a variante formal escrita, como em textos formais, questões de concursos ou vestibulares, provas escolares e interações de trabalho.
Nessas situações há maior rigor, que convém respeitar se o interlocutor o exige. Convém saber que, se não requer a preposição, o verbo é conhecido como transitivo direto: seu complemento é o objeto direto. Quando exigir preposição, chama-se transitivo indireto: o complemento é um objeto indireto. Quando há dois complementos implicados, o verbo é transitivo direto e indireto. E será intransitivo quando não precisar de complemento. Importa também saber qual a preposição com que o verbo se relaciona.
Classificações
Essa classificação, como vimos, requer cuidados. Ainda mais porque mesmo gramáticos tradicionais divergem sobre a regência de verbos como "ir", por uns considerado intransitivo, por outros transitivo circunstancial. Como, então, encaixar os verbos na classificação? Os transitivos indiretos não admitem oração na voz passiva, em que o sujeito sofre a ação (a exceção é "obedecer"). "Gosto de namorar", transitivo indireto, não comporta passiva.
O objeto indireto pode ser representado por substantivo, palavra substantivada, oração (oração subordinada substantiva objetiva indireta) ou pronome oblíquo. Há oblíquos átonos que funcionam como objeto indireto: me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Já os tônicos que funcionam como objeto indireto são: mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, eles, elas. Assim, se substituído por pronome de terceira pessoa ("ele", "ela" e seus plurais), o objeto indireto é "lhe" ou "a ele" (e respectivas flexões, "lhes", "a ela" etc.).
Os transitivos diretos indicam que o sujeito pratica a ação, sofrida por outro elemento (o objeto direto). Por isso, para saber se um verbo é transitivo direto, útil é passar a oração à voz passiva, o que só transitivos diretos admitem (além de "obedecer", "pagar" e "perdoar"). "Ele procura os óculos" (óculos são procurados por ele).
O objeto direto pode ser representado por substantivo ou palavra substantivada, oração (subordinada substantiva objetiva direta) ou pronome oblíquo.

Os oblíquos átonos que funcionam como objeto direto são: me, te, se, o, a, nos, vos, os, as. Os tônicos são: mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, eles, elas. Como são tônicos, só são usados com preposição, por isso são objeto direto preposicionado.
Verbos sequenciados
Há um pensamento gramatical que hoje muitos consideram despropositado e pode ilustrar uma norma que tende a ser superada, segundo o qual não seria "correto" compor dois verbos que, por princípio, pedem preposições diferentes. "Vi e gostei do filme" deveria ser reescrito para "Vi o filme e gostei dele", pois não se usa a forma isolada "Vi do filme".   
O brasileiro, no entanto, parece considerar desperdício repetir o complemento em tais casos. Se há sequência de dois verbos de regência diversa, mas com um só complemento, tendemos a considerar como implícita a preposição do complemento há pouco mencionado. Assim, "O eleitor hoje é contra ou a favor do Senado?", "Ela fez exames antes e durante a gravidez?". Em Moderna Gramática Portuguesa (Editora Lucerna, 37a ed., 1999: 569), Evanildo Bechara comenta:
"Ao gênio de nossa língua não repugnam tais fórmulas abreviadas de dizer, principalmente quando vêm dar à expressão uma agradável concisão que o giro gramaticalmente lógico nem sempre conhece".
Em alguns casos de regência, a língua, conclui ele, prioriza construções que a gramática insiste em continuar condenando.
Dúvidas frequentes
"Aspira o cargo", "aspira pelo cargo" ou "aspira ao cargo"?
Transitivo indireto (almejar, pretender): Ele aspira ao cargo de diretor. Transitivo direto (absorver, inalar): Ele aspirou o veneno.
"Quer muito à moça" x "Quer muito a moça"
Transitivo indireto (estimar, amar, ter afeto por): Ele quer ao tio como a um pai. Ele quer muito à moça. Transitivo direto (desejar): Quero o melhor para você. Não a quis.
"Atendeu os pedidos" x "Atendeu aos pedidos"
Transitivo direto (acolher, servir): O balconista atendeu o freguês. Indireto (prestar atenção, considerar, satisfazer): Atendeu ao pedido.

"Chamou os alunos" x "Chamou pelos alunos"
Mesmo sentido com regências diferentes, transitivo direto e transitivo indireto. Transitivo direto (convocar): A professora chamou os alunos para a aula. Transitivo direto e indireto (ser notado, repreender): A roupa chamava a atenção de quem passava. A professora chamou a atenção dos alunos.
"O Corinthians venceu ao Internacional" x "O Corinthians venceu o Internacional"
Vencer é transitivo direto: "O Corinthians venceu o Internacional" é a forma consagrada pelos gramáticos tradicionais.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Prepositions (Preposições)



          Preposições são palavras usadas com nomes para mostrar sua relação com outras palavras da sentença.                                       
       A seguir, apresentamos as principais preposições em inglês e seu uso:
Time
Place
In
Meses: In January
Cidades: In London
Anos, séculos: in 1995
Estados: In Arkansas
Estações: in winter
Países: in Nicaragua
Partes do dia: in the morning, in the afternoon, in the evening
Continentes: In Asia

On

Dias da semana: on Sunday
Ruas, avenidas, praças: on Portugal Avenue
Datas (mês +dia) on April the 3rd
Determinadas datas: On Christimas day

At

Horas: at 7
Endereços (rua +número):at 456 Lincoln St.
Certos feriados: At Christmas
Lugares públicos: at the club, at the airport, at a party

         Na dúvida, as sugestões abaixo podem ajudá-lo a resolvê-la, mas lembre-se: 

          O uso nem sempre segue a regra geral.

Use in para indicar “dentro de alguma coisa”:
In the box
In the fridge
In a shop
In a garden
In France
Use on para indicar contato:
On a shelf
On a plate
On the grass
Use at para indicar um lugar definido. Nesse caso, seu sentido é o de “junto a”, “na”:
At the bus stop
At the top
At the bottom
Outras preposições:

About: sobre, a respeito de: Tell me about your life.
Above: acima de: John’s apartment is above Mara’s.
Across: através de, do outro lado: The dog swam across the river.
After: depois de: She always arrives after 9 o’clock.
Against: contra: The motorbike was against the wall.
Among: entre (vários): The pencil was among the books.
Around: em volta de: They travelled all around the world.
Before: antes de: She never arrives before 7 o’clock.
Behind: atrás de: Tim is behind Peter.
Below: abaixo de: Mara lives below John.
Beside: ao lado de: The earphones are beside the monitor.
Besides: além de: Besides English, she can also speak Russian.
Between: entre (dois): He was sitting between the two old ladies.
Beyond: além de: The valley is beyond the mountains.
But: exceto: Everybody went to the party, but Philip.
By: por, junto, ao lado de: Let’s rest by the fireplace.
They live by the sea.
Down: abaixo, para baixo
Up: acima, para cima Their house is halfway down/up the hill
During: durante: He was in the army during the war.
For: a favor de: He who’s not for us is against us.
For: por, para, há (tempo) The train for Moscow leaves at noon.
Fresh air is good for health.
They’ve lived here for ages.
From: de (origem): Where are you from?
In front of: na frente de: Peter is in front of Tim.
Inside/outside: dentro de/fora de: Let the dog sleep inside/outside the house.
Instead of: em vez de: You should be studying instead of playing video-games.
Into: para dentro, em: The cars disappeared into the mist.
Like: como: What’s that like?
Near: perto de: The post office is near the cathedral.
Off: para fora (de uma superfície): Marky fell off his bike.
Out of: para fora de: Take these books out of the box.
Over: sobre, acima de, por cima de:
There were over 1.000 people in the concert
Throw the stone over the wall
Since: desde: I’ve known her since 1995.
Through: através de: The soldiers walked through the forest.
Till/until: até (tempo): The book won’t arrive till tomorrow.
To: para: People say that Teresa will go to France next week.
Towards: para, em direção a: The nasty boy threw the stone towards the window.
Under: em baixo de: the cat lays under the bed.
With/without: com/sem: Go with us!
I can’t live without you.
Within: dentro de : The noise came from within the stable.

Dicas da Língua Portuguesa


Quando eu VIR ou VER?
“Quando eu VIR ou VER uma amiga, falarei com ela.”
A presença da conjunção subordinativa temporal QUANDO indica que devemos usar o verbo VERno FUTURO DO SUBJUNTIVO. E aqui está o problema: VER é INFINITIVO. O FUTURO do SUBJUNTIVO do verbo VER é:
Quando eu VIR, tu VIRES, ele VIR, nós VIRMOS, vós VIRDES e eles VIREM.
Portanto, o certo é: “Quando eu VIR uma amiga, falarei com ela.”
Observe outros exemplos:
SE vocês VIREM a verdade, ficarão surpresos.”
“Devolverei o documento, QUANDO nos VIRMOS novamente.”

Prof. Sérgio Nogueira